Jorge Maia

A CASA DE ESMERIZ

FAMALICÃO

Desde logo, a partir da primeira visita ao terreno, se percebeu a morfologia peculiar: uma pequena concha com acumulação de água e solo movediço e uma soberba abertura de vistas sobre a paisagem do vale do Pelhe. Esta primeira impressão do local tornou-se decisiva para a equipa de projeto e para o conceito que serviu de suporte à solução. Os arquitetos imaginaram um objeto suspenso, uma construção palafítica que respeitasse a orografia do terreno, que se adaptasse de forma natural à paisagem. Esta solução manteve intacto o terreno, facto que simplificou a solução de arquitetura paisagista. Manteve-se a concha e, por oposição ao carácter brutalista do betão aparente, encontrou-se uma solução naturalista – pedra de rachão azul – uma espécie de pele de revestimento do terreno, a partir da qual nascem os pilares de suporte ao edifício. As gárgolas do edifício conduzem a água da chuva para essa superfície drenante, que naturalmente escoa através da concha. A força do edifício e a sua imagem palafítica exigiam um jardim espartano. Mais uma vez, tornou-se determinante a análise do sítio. Na zona mais seca, um bosque de enquadramento com vegetação autóctone – medronheiro, sobreiro, urze. Na zona húmida, um salgueiral a lembrar água em abundância. O bosque de carvalhos e a urze pretendem recriar a paisagem natural, dando abrigo às vistas sobre o vale. De cada vez que revisito a obra tenho mais certezas sobre os dois fatores que determinaram o produto final: por um lado, a análise do sítio; por outro, o trabalho em equipa desde o primeiro momento.